Sobre as últimas leituras - Segredos do Enem

Por meio destes exemplos concluímos que tanto o objetivo da descrição quanto o ponto de vista do sujeito em relação ao objeto descrito devem ser minuciosamente observados, para se criar esse tipo de texto.

Em outras palavras, na descrição a seleção dos traços, das características que mostrarão ao leitor como é um determinado objeto, deve ser elaborada pelo sujeito de forma coerente e adequada com seu objetivo e ponto de vista ao descrever.

Entretanto, antes de selecionar é preciso enumerar, isto é, fazer uma lista de traços, características e detalhes do objeto, da maneira mais livre possível.

Você pode se colocar em diferentes perspectivas (próximo, distante, atrás, na frente, em cima, embaixo, do lado etc) em relação a ele, pode conjugar memória e imaginação, pode pensar se considerou todos os sentidos ao descrever (visão, tato, audição, olfato, paladar), pode misturar sensações com sentimentos, emoções, reflexões.



Só não deve bloquear este fluxo pensando antecipadamente na montagem, na organização final do texto dissertativo do Enem. Este processo vem depois, quando você já tem os elementos necessários para cortar o que está repetido, acrescentar o que falta, hierarquizar em principais e secundários os aspectos escolhidos, enfim, ajustar o como ao porquê: o tipo de texto (por exemplo: com maior objetividade ou maior subjetividade, presença expressiva de detalhes ou linguagem mais enxuta, ponto de vista mais próximo ou mais distante, favorável ou desfavorável etc) ao contexto de produção (os objetivos do texto e a situação que gerou a necessidade de escrevê-lo).

A linguagem da descrição: algumas características essenciais

Na medida em que tende para a estaticidade, isto é, para a ausência de movimento ou ação, a descrição pode ser comparada com uma fotografia ou uma pintura. Assim, seu traço predominante é a presença dos nomes (substantivos) e dos atributos que o caracterizam (adjetivos e locuções adjetivas).

Exemplo:

O cabelo era louro-dourado, muito fino e sedoso, as orelhas pequenas. (...)
O olho esquerdo tinha uma expressão de inquietante expectativa.
Os lábios (...) eram perfeitos e em harmonia com o contorno do rosto, de maçãs ligeiramente salientes.
O nariz, quase imperceptível (... )
A voz soava grave e profunda.

Pela mesma razão mencionada no item anterior, as descrições privilegiam as frases nominais, os verbos de estado (e não os de ação) e o pretérito imperfeito do indicativo (e não o pretérito perfeito).

Exemplo:

A mão esquerda era um milagre de elegância.
Muito móvel, evolucionava no ar ou contornava os objetos com prazer.
No trabalho, ágil e decidida, parecia procurar suprir as deficiências da outra...
Cumprimentava às vezes com a mão esquerda.
Talvez por pudor, receosa de constranger as pessoas, dirigia-se a elas com economia de gestos.
Alguns de seus manuscritos eram quase ilegíveis.
Assinava com bastante dificuldade, mas utilizava ambas as mãos para datilografar.
Dois atributos imediatamente visíveis: integridade e intensidade... 


As comparações e as metáforas, por constituírem recursos retóricos destinados a caracterizar os objetos, a partir de semelhanças com outros objetos, também são muito utilizadas nas descrições.

Exemplo:

Ela possuía a dignidade do silêncio.
Seu porte altivo era todo contido e movia-se pouco.
Quando o fazia, era como se estivesse procurando uma direção a seguir. (...)
Os olhos tinham o brilho baço dos místicos.
Pareciam perscrutar todos os mistérios da vida: profundos, serenos, fixavam-se nas pessoas como se fossem os olhos da consciência...

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